ABRIL AZUL SJB

A dura vida dos candidatos de primeira viagem

Candidata a estadual pelo Pros, considera que seus 302 votos, representam uma vitória

Por Vito Diniz em 09/10/2022 às 10:16:34

Normalmente, após uma eleição, a mídia se concentra nos resultados, o que é bastante óbvio. Quando se trata do primeiro turno, geralmente o foco são os eleitos para os cargos do Legislativo, e os eventualmente eleitos para o Executivo, ou aqueles que passaram pelo crivo do primeiro turno e disputarão o segundo. Além de eleitos, os mais votados, são os que na maioria absoluta das vezes despertam a atenção e geram matérias: os campeões de voto, as maiores bancadas, os partidos que cresceram, mas também aqueles que diminuíram em número de representantes.

Entretanto, existe um contingente muito maior, que figura na lista dos não eleitos. Só nesta eleição, 2.640 candidatos e candidatas disputaram, por exemplo, uma das 70 vagas na Assembleia Legislativa do Rio, dos quais 870 eram mulheres. Nestas eleições, a taxa de novos eleitos para a Alerj ficou abaixo daquela registrada em 2018, quando houve uma renovação de 51% do parlamento estadual. Em 2022, a renovação ficou em 45,7% (32 novatos), entretanto, com aumento da bancada feminina, de 12 para 15 mulheres (21,4%).

O que a maioria das pessoas não sabe, porém, é que antes mesmo do processo eleitoral começar, existe um outro tipo de disputa, a intrapartidária. Como existe um contingente grande de pré-candidatos, muitos nem conseguem vaga, embora, de acordo com os registros do Tribunal Superior Eleitoral – TSE, 32 partidos estivessem aptos a lançar candidatos nesta eleição. Na outra ponta há também os partidos que não possuem um número substancial de filiados, e consequentemente, de interessados em disputar uma eleição.

De acordo com o TSE, dos 11,8 milhões de eleitores do Rio, 1,039 milhão são filiados a partidos políticos, ou seja, 8,8% do eleitorado. Portanto, só o fato de ser candidato, seja a deputado ou deputada, estadual ou federal, pode ser considerado uma vitória, porque além do desejo, é necessário articulação dentro do próprio partido.

Quem pensa que uma candidatura política é um mar de "rosas", e que para se eleger basta "bater canela" nas ruas – como se diz no jargão das campanhas políticas, e aparecer no programa eleitoral gratuito, está redondamente enganado. Se é necessário uma filiação partidária e articulação para obter uma vaga, também é preciso cumprir uma série de etapas, algumas não obrigatórias, no sentido jurídico, como possuir um grupo minimamente organizado, ter propostas, e produzir material de campanha; e outras legais, como a apresentação de certidões, declaração de Imposto de Renda e abrir contas bancárias para doações e pagamentos, além da famigerada prestação de contas, muitas vezes o "calcanhar de Aquiles" dos candidatos. Portanto, ser postulante a um cargo eletivo não é tão fácil como muitos imaginam. Vencer uma eleição, então, implica em uma série de fatores que somados, vão além de sensibilizar o eleitor.

A vida de um candidato ou candidata não é fácil, ainda mais para candidatos de "primeira viagem". E com um período menor de campanha oficial – 45 dias, em média, no primeiro turno, e uma legislação que tem punido com certo rigor a chamada "campanha extemporânea" (aquela realizada fora do prazo regulamentar determinado pela Justiça Eleitoral), a corrida pelo voto se tornou quase uma "rave" (festa de longa duração). Dependendo do candidato, seus propósitos e o cargo a que está concorrendo, não é difícil emendar dias e noites, com uma programação extensa de reuniões, gravação de programa eleitoral, encontros e caminhadas, muitas vezes sem se dar conta do tempo e dos horários.

- A gente vive quase um "looping", diz um veterano que atua nos bastidores de campanhas eleitorais há mais de 25 anos.

Com o advento da internet, responsável por reformular a dinâmica das campanhas, marqueteiros e candidatos perceberam a possibilidade de chegar a um público maior de forma quase imediata. Na outra ponta, porém, está a necessidade de produção de conteúdo, para atrair a atenção do eleitor, o que na prática, resulta em mais trabalho e na necessidade de colaboradores, por vezes dedicados exclusivamente à tarefa de dar visibilidade ao que é produzido, ao passo que o ambiente da internet também se torna mais disputado e muitas vezes, hostil.

- O próprio candidato pode postar alguma coisa, mas na correria do dia-a-dia é difícil, então é preciso de pessoas que cuidem das redes sociais, que façam as postagens, que respondam aos eleitores. Pra ser candidato, é necessário uma estrutura mínima: alguém que cuide da agenda, alguém para as redes sociais, alguém que dirija o carro, porque são necessários muitos deslocamentos. Fazer tudo sozinho é inviável, diz o especialista.

Candidata pela primeira vez, a jornalista e empreendedora Ana Estaneck, ou Ana do Jornal, como ficou conhecida, vivenciou essa realidade. Ela foi uma das 20 mulheres que se candidataram à Alerj pelo Pros – Partido Republicano da Ordem Social, que nesta semana anunciou a fusão com o Solidariedade, a fim de superar a chamada cláusula de barreira, dispositivo legal que estabelece um mínimo de votos e candidatos eleitos, que se não atingido, impede os partidos de terem acesso ao Fundo Partidário e à propaganda eleitoral gratuita, no rádio e na TV. De acordo com a legislação, em 2022, os partidos teriam que alcançar um mínimo de 2% dos votos válidos ou eleger pelo menos 11 deputados federais, em nove Estados. Nem o Pros, nem o Solidariedade alcançaram, sozinhos, nenhuma dessas marcas, e irão se fundir em um único partido.

Para Ana do Jornal, a primeira campanha política foi uma "vitória", apesar de ter obtido 302 votos. Entretanto, embora tivesse a intenção de se eleger, ela reconhece as dificuldades: "nós trabalhamos praticamente sem nenhuma estrutura e começamos quase em cima do início do período eleitoral, porque foi tudo muito rápido, entre o convite para ser candidata e o início da campanha. Eu não tinha um trabalho estruturado ainda, mas considero que desempenhamos um bom papel. Foi na base de muita conversa, indo aqui e ali, movimentando as redes sociais, transmitindo mensagens pelo WhatsApp. Acho que para uma primeira experiência foi muito bom, um grande aprendizado", afirma ela.

Quanto à participação feminina na política, 2022 representou um marco no aumento do número de mulheres candidatas, muito pela legislação, que determina um mínimo de 30% de mulheres, mesmo no caso de partidos reunidos em federações. Se em 2018, 32% dos candidatos em todo o País eram do sexo feminino, em 2022 foram 33%, em todo o Brasil, segundo o TSE. Entretanto, o número de mulheres que presidem diretórios nacionais de partidos ainda é pequeno. Dos 32 partidos constituídos, apenas cinco são presididos nacionalmente por mulheres: PT (Gleisi Hoffmann), PC do B (Luciana Santos), Podemos (Renata Abreu), Rede (Heloísa Helena) e PMB (Suêd Haidar).

Para a Câmara Federal, apesar de o número de mulheres candidatas também ter crescido no Rio, a representação feminina do Estado se manteve com nove deputadas, das quais sete foram reeleitas. A novidade nesta eleição é que pela primeira vez, uma mulher aparece como a campeã de votos: Daniela do Waguinho (União Brasil), obteve 213.706 votos, enquanto Talíria Petrone (PSol), também reeleita, obteve a terceira maior votação dentre todos (198.548). Elas são as únicas mulheres entre os dez mais votados no Estado. Benedita da Silva (PT), Jandira Feghali (PC do B), Chris Tonietto (PL), Rosângela Gomes (Republicanos) e Soraya Santos (PL), também se reelegeram. Duas mulheres não foram reeleitas: Major Fabiana (PL) e Clarissa Garotinho (União), esta última porque se candidatou ao Senado, ficando com a quarta maior votação (1,1 milhão de votos, ou 14,02% do total). Dani Cunha (União) e Laura Carneiro (PSD), foram eleitas, completando a bancada feminina do Rio, em Brasília.

Nesse universo de candidatas, conversamos com Ana do Jornal, para entender um pouco mais sobre o que é uma corrida eleitoral para candidatos principiantes:

EXCLUSIVO NF – O que você achou de participar da sua primeira campanha eleitoral?

ANA DO JORNAL – Achei maravilhoso. É realmente uma celebração da democracia, um momento único. A gente tem a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas e vivenciar a expectativa de transformar e de melhorar a vida de quem mais precisa, quando nos colocamos na condição de candidatos e candidatas.

EXCLUSIVO NF – Muita gente se decepciona, desiste no meio e nem quer saber de uma segunda campanha. Você já parou pra avaliar isso?

ANA DO JORNAL – Acho que nasci com o espírito voltado para a política, só não sabia disso até me tornar candidata. Embora nunca tivesse participado diretamente de uma campanha, sempre gostei da política, sempre tive interesse, sempre quis estar nesse meio. Eu parava para assistir ao horário eleitoral gratuito, quando podia, pegava propaganda de candidato na rua, só pra ler quais eram as propostas.

EXCLUSIVO NF – Então você será candidata na próxima?

ANA DO JORNAL – Posso dizer que sou pré-candidata, sim, mas claro que isso não depende apenas da minha vontade, do meu desejo pessoal. Uma candidatura nasce de um contexto político e ela é produto de um grupo.

EXCLUSIVO NF – Hoje você tem um grupo, o que não havia antes.

ANA DO JORNAL – Grupo sempre houve, mesmo que não organizado como agora, mesmo que pequeno. Hoje temos um grupo maior, mais organizado, com propósitos definidos. Acho que fizemos um bom trabalho, apesar de muita gente achar que a votação foi pequena. Demos o primeiro passo e temos muita possibilidade de ampliar esse trabalho.

EXCLUSIVO NF – O que você achou da votação?

ANA DO JORNAL – Alguns podem ficar decepcionados com 302 votos. Eu não. Para quem não tinha nada, antes da eleição e hoje tem um capital eleitoral e a experiência de uma campanha, considero que foi válido. Conhecemos pessoas que não puderam estar conosco porque tinham compromissos assumidos, mas sabemos que temos um grupo fiel, pessoas que receberam propostas de outros candidatos e mantiveram suas posições. Nós estamos preparando uma estratégia e muita gente disse que deseja caminhar conosco na próxima. Sabemos que nem todos poderão, por uma série de fatores, mas são pessoas que têm me ligado, com as quais eu tenho encontrado e que estão dispostas a caminhar ao nosso lado, na próxima eleição.

EXCLUSIVO NF – Então você acha que a votação foi justa?

ANA DO JORNAL – Foi, claro que foi. Ninguém inicia nada do topo, as coisas vêm de baixo e vão ganhando proporção. Se você me perguntar se eu esperava mais votos, a resposta será "sim". É claro que eu queria vencer a eleição. Se você me perguntar se eu fiquei decepcionada, eu direi que "de maneira alguma", muito pelo contrário. Sou grata à confiança que mais de 300 pessoas depositaram em mim, mesmo sabendo que seria difícil nós nos elegermos. Quando você tem uma vasta experiência na política, quando já participou de várias campanhas, é uma coisa. Antes eu não tinha ideia do potencial eleitoral, hoje eu sei que posso chegar lá. Dentro do meu partido, o PROS, eu fiquei à frente de outros 22 candidatos e candidatas, dos quais alguns deles já tinham disputado outra eleição. Além disso, fui a oitava mulher mais votada, o que pra mim é uma conquista.

EXCLUSIVO NF – Você considera que isso é suficiente?

ANA DO JORNAL – De maneira alguma. Esse é somente o primeiro passo, o início. Mas se você não der o primeiro passo, nunca vai chegar a lugar nenhum. Suficiente é você obter os votos necessários para conquistar uma cadeira e depois continuar fazendo um trabalho sério, pautado por princípios éticos e morais, para se reeleger. Uma coisa é você chegar lá, a outra é se manter. E se você não se mantiver, não vai conseguir fazer o que é necessário para ajudar as pessoas, para influenciar positivamente a vida delas, de transformar realidades para melhor.

EXCLUSIVO NF – Você falou em ética e moral. Acha que existe ética e moral dentro da política? Tanta gente diz o contrário.

ANA DO JORNAL – A política é o meio pelo qual a gente pode transformar e melhorar a vida das pessoas. Se não for pela política, as coisas dificilmente acontecerão. Você tem caminhos alternativos, como o trabalho comunitário e o Terceiro Setor, onde eu já atuo, mas é por meio da política que vamos estabelecer ou aprimorar políticas públicas para que as pessoas possam ter uma vida melhor.

EXCLUSIVO NF – Essa não é uma visão utópica, voltando à questão da ética e da moral dentro da política?

ANA DO JORNAL – Se é utópica eu não sei, mas sem utopias nós também não vivemos. Não dá pra ser 100% pragmático. As utopias são essenciais para introjetarmos os nossos ideais e termos um objetivo, uma meta. Quanto à ética e a moral dentro da política, sim, eu acredito que é possível. Sei que tem. O que acontece é que as pessoas dissociam a política daquilo que acontece de bom no cotidiano delas, e associam às coisas que não são boas, que não funcionam bem. Dissociam dos governos e associam às pessoas; dissociam das realizações e associam à corrupção.

EXCLUSIVO NF – Então você acha que existe uma visão distorcida do que é a prática política, por parte de algumas pessoas?

ANA DO JORNAL – Sim, eu acredito, mas eu não culpo quem pensa dessa forma. Acredito que a maioria associa mais a política aos fatos negativos do que aos fatos positivos, porque o negativo é, ou deveria ser, a exceção. O positivo é obrigação. É obrigação o cidadão ser honesto e o político mais ainda; é obrigação o governo fazer o que é necessário para que as pessoas tenham suas necessidades atendidas. Quando essas coisas não acontecem, é porque alguém deixou de cumprir com aquilo que se propôs, ou deixou de cumprir com a obrigação que assumiu quando se candidatou, ou não conseguiu cumprir por alguma razão. Não estou avaliando o motivo pelo qual não foi feito, mas quando não acontece aquilo que o cidadão deseja, ele associa à incompetência, à falta de interesse ou à corrupção.

EXCLUSIVO NF – E você não acha que é isso? Quando as coisas não acontecem, não é incompetência, falta de interesse ou corrupção?

ANA DO JORNAL – Pode ser, mas nem sempre. Existem questões mais profundas, que às vezes são difíceis de explicar, mas nem sempre é por esse motivo. Eu também achava que podia ser apenas isso, mas quando comecei a estudar gestão pública, aprendi que nem sempre é possível fazer o que se deseja, da forma que se quer. Existe uma série de fatores que estão relacionados, que podem ir desde o papel que cabe a cada mandatário, até às questões legais e de orçamento público. Muitas vezes é por falta de recursos, ou simplesmente pela impossibilidade de se fazer algo da forma que o cidadão deseja, porque a legislação não permite. A gestão pública é extremamente regulamentada, é necessário seguir a legislação à risca, caso contrário, pode-se pagar um preço muito caro.

EXCLUSIVO NF – Você poderia citar um exemplo, para que as pessoas tenham mais clareza disso?

ANA DO JORNAL – Durante a campanha eu recebi diversos pedidos de eleitores e eleitoras, para que eu me comprometesse com a realização de obras, por exemplo. A maioria das pessoas não sabe que o deputado ou o vereador não faz obra. Quem faz a obra é o poder Executivo, o governo municipal, o governo estadual ou o governo federal. Então, a minha postura era me comprometer a encaminhar, caso fosse eleita. Isso o deputado pode fazer, o vereador também pode. Teve gente que me pediu para eu conseguir mais médicos para um determinado hospital. Também não é o deputado quem toma essa decisão. Então, eu assumia o compromisso de lutar por aquilo. Nunca dizia "eu vou fazer".

EXCLUSIVO NF – E as pessoas ficavam satisfeitas?

ANA DO JORNAL – Eu acredito que sim, porém o mais importante é eu estar com a minha consciência tranquila, porque eu não vou dizer que vou fazer uma coisa, quando eu sei que está além das competências do cargo para o qual me candidatei, e lá na frente ser cobrada por não ter cumprido. Eu prefiro dizer que não posso assumir aquele compromisso, ou que o papel do deputado ou do vereador não é aquele. Eu jogo limpo, às claras. Não entrei na política para enganar as pessoas.

EXCLUSIVO NF – Tem muita gente que promete mundos e fundos e consegue se eleger, mesmo sabendo que não vai cumprir.

ANA DO JORNAL – Mas eu não faço isso. Se eu tiver que fazer isso pra me eleger, prefiro ficar dentro de casa, cuidar da minha família e do meu negócio.

EXCLUSIVO NF – Houve muitos pedidos de emprego?

ANA DO JORNAL – Muita coisa, muita coisa!

EXCLUSIVO NF – E aí, qual era a sua resposta?

ANA DO JORNAL – Eu não assumo esse tipo de compromisso porque sei que não vou atender a todo mundo. Então, eu digo que esse não é o papel de um deputado, ou de um vereador. Me dói saber que uma mãe ou um pai de família está desempregado e precisa levar o sustento para os seus filhos, mas eu não vou gerar uma esperança em alguém, só pra conquistar um voto. Se nós pudermos ajudar, encaminhar um currículo para uma empresa, nós vamos fazer. Eu já faço isso, naturalmente, no meu dia-a-dia, fora da política, mas como candidata, não vou assumir nenhum compromisso que depois eu não tenha condição de cumprir. Além disso existe toda uma legislação que veda a "compra" de voto ou a troca de voto por algum benefício pessoal para o eleitor. Então, eu não assumo esse tipo de compromisso, primeiro porque não vou conseguir cumprir, segundo porque é contra a legislação.

EXCLUSIVO NF – Você está cursando Gestão Pública, não é?

ANA DO JORNAL – Sim. Agora, depois da campanha, estou tentando colocar a vida acadêmica em dia. Achei que conseguiria ter uns dias de folga, mas que nada. Preciso colocar os estudos em dia, porém tem acontecido muita coisa, muitas conversas, a correria continua. Mas eu curso Gestão Pública na Unopar e preciso cumprir com as obrigações acadêmicas também, então, não consegui parar ainda.

EXCLUSIVO NF – Não parou por que, além do retorno à rotina, têm recebido propostas, existem conversas?

ANA DO JORNAL – Conversas, por enquanto só conversas. Prefiro não adiantar nada.

EXCLUSIVO NF – Não pode falar nada sobre isso?

ANA DO JORNAL – A única coisa que posso dizer, no momento, é que o telefone não para. Felizmente muitas pessoas viram a nossa campanha e gostaram.

EXCLUSIVO NF – E você acha que elas gostaram de quê?

ANA DO JORNAL – Eu acredito que primeiro, foi pela seriedade da nossa candidatura. Seriedade no sentido de ser uma candidatura de verdade. Ganhamos visibilidade com isso. Eu sabia que era muito difícil, tinha consciência, ainda mais sendo a primeira campanha. Porém, todo mundo, ou pelo menos a maioria absoluta que se candidata, acredita na possibilidade de se eleger. Quando aceitei o convite deixei claro que não seria uma "candidata laranja", de forma alguma. Em segundo lugar, creio que tenha sido pela nossa forma de fazer política. A gente trouxe propostas baseadas no meu campo de atuação, naquilo que eu já faço junto ao Terceiro Setor e que eu pretendo levar à frente, porque isso é parte da minha vida. A gente deixou discussões menos importantes de lado, como fofoca, disputas mesquinhas e bate-boca, e focamos em propostas.

EXCLUSIVO NF – Você defendeu alguns temas sensíveis, acha que foi válido?

ANA DO JORNAL – Com toda a certeza. Não mudaria em nada a nossa estratégia de campanha, porque ela não foi uma estratégia baseada no desejo de vencer a todo custo, mas de mostrar realmente as coisas que precisam ser ditas, debatidas e feitas. Então, como eu já tenho um trabalho no campo do empoderamento e do empreendedorismo feminino, da inclusão social ampla, geral e irrestrita, inclusive em defesa das crianças com e sem diagnóstico, das pessoas que têm uma opção de gênero diferente da nossa, no combate à violência doméstica, no respeito à diversidade e às diferenças, e no campo da tolerância religiosa, a nossa pauta foi e será sempre baseada nisso. Primeiro de tudo, respeito as pessoas, independente de quem elas sejam, quais sejam as suas opções ou escolhas, a cor da pele, nada disso pode ser motivo de qualquer tipo de discriminação. Somos todos semelhantes, não são esses aspectos que nos tornam melhores. Claro que com o tempo a gente pode incorporar outras pautas.

EXCLUSIVO NF – Você acha que teve mais ou menos votos por isso?

ANA DO JORNAL – Se eu tive mais ou menos votos não é o que mais importa. O importante é que eu defendo essas pautas há muito tempo e sinto que tenho legitimidade para falar desses assuntos. Essas pessoas precisam ser vistas pela sociedade, inclusive aquelas que residem nas comunidades, que é de onde eu vim.

EXCLUSIVO NF – Mas você acha que vale a pena levantar a bandeira de grupos que muitas vezes são "invisíveis" à sociedade? Muitos deles sequer votam!

ANA DO JORNAL – Como eu disse durante a campanha, se a gente não entrar na política para impactar positivamente a vida das pessoas, não adianta, é melhor nem entrar. Se ninguém levantar a voz em nome de quem precisa, de quem mais necessita, como essas pessoas ficarão? Não é pelo voto, é pela obrigação de atuar e defender quem mais precisa, de criar políticas públicas que sejam abrangentes, de ampliar e aprimorar as que já existem, para que a gente possa reduzir as desigualdades. Acabar com a desigualdade é impossível, mas nós podemos atuar para que as pessoas tenham uma vida digna e exerçam a sua cidadania.

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