As prisões efetuadas pela PolĂcia Federal, dos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, acusados de serem os mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do seu motorista, Anderson Gomes, no Centro do Rio, em 2018, além da prisão do delegado e ex-chefe da PolĂcia Civil do Rio, Rivaldo Barbosa, podem causar um reboliço na polĂtica, tanto na capital, como no interior do Estado. Com ramificações em diversas localidades da capital, Região Metropolitana, Baixada Fluminense e no interior, os dois irmãos são polĂticos influentes, que ao longo de pelo menos duas décadas constituĂram um grupo formado por presidentes de partidos, vereadores, prefeitos e ex-ocupantes de cargos pĂșblicos.
Após a divulgação das primeiras informações, jĂĄ na manhã de domingo, 24, quando foi deflagrada a operação Murder Inc., da PolĂcia Federal, começaram as reações de desvinculação: o União Brasil, partido de Chiquinho Brazão, se reuniu e decidiu expulsĂĄ-lo dos seus quadros. Outros polĂticos do Estado, tanto da capital como do interior, por sua vez, fizeram uma limpa em suas redes sociais, apagando fotografias e postagens de apoio.
Ao longo de suas carreiras polĂticas, tanto Domingos – antes de ser conselheiro do TCE, quanto Chiquinho, construĂram fortes laços no interior do Estado. Em municĂpios como Silva Jardim, por exemplo, recebeu apoio de candidatos derrotados e vereadores com mandato. Apoios como o de Marcelinho Pedreiro (que teve o mandato cassado em 2022, por fraude na cota de gĂȘnero) e Juninho Peruca, além de JĂșnior Brazão, que adotou o nome polĂtico do padrinho foram comemorados nas redes sociais, com extensas publicações.
Juninho e JĂșnior, ao que parece, são dois que tentaram se desvincular de Chiquinho Brazão. Curioso é que o vereador Juninho, que tinha foto ao lado de Chiquinho em BrasĂlia, jĂĄ subiu em palanque durante campanha eleitoral desafiando opositores a aparecerem ao lado dos deputados que os apoiavam. Uma visita às suas redes sociais, assim como às de JĂșnior Brazão, deixa a impressão de que os dois foram rĂĄpidos ao apagar ou esconder fotos e vĂdeos em que aparecem ao lado do deputado Chiquinho Brazão.
Deflagrada nas primeiras horas do domingo, 24, a operação Murder Inc., da PolĂcia Federal cumpriu mandados de prisão e de busca e apreensão de documentos, celulares e outros dispositivos eletrônicos em diversos endereços dos acusados, a fim de identificar outros possĂveis envolvidos. Exatos seis anos e 10 dias após o crime, as prisões trazem instabilidade para ocupantes e postulantes a cargos pĂșblicos em todo o Estado do Rio, dada a influĂȘncia da famĂlia Brazão na polĂtica.
De acordo com o portal Congresso em Foco, as primeiras associações de Domingos com os assassinatos surgiram logo no inĂcio das investigações a cargo da PolĂcia Civil do Rio. Um relatório da PolĂcia Federal apontava o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, como principal suspeito. Em 2019, Domingos Brazão foi denunciado pela então procuradora-geral da RepĂșblica, Raquel Dodge, por obstruir as investigações, rejeitada pela Justiça do Rio.
O nome de Chiquinho Brazão, que era vereador quando Marielle Franco foi assassinada, e atualmente é deputado federal, surgiu no curso das investigações. Por esse motivo, a delação premiada do ex-policial Roni Lessa, acusado de ser o executor do crime, foi remetido ao Supremo Tribunal Federal, para ser homologada, em razão de haver foro privilegiado. Sua prisão, inclusive, serĂĄ levada ao plenĂĄrio do Congresso para votação.