PREFEITURA CAMPOS DENGUE

OBSERVATÓRIO

Vito Diniz

Por Da Redação em 09/08/2022 às 22:56:36

Fotos: Divulgação

"O debate permanente é o único antídoto contra a manipulação da opinião"
(Albert Jacquard, cientista, ensaísta e humanista francês – 1925/2013)


Em pé de guerra

Realizado pela Band, na noite do último domingo, 7, o primeiro debate entre quatro dos principais candidatos ao governo do Estado, foi uma pequena demonstração do que será a campanha eleitoral, a partir do próximo dia 15. O encontro, que reuniu Cláudio Castro (PL), Marcelo Freixo (PSB), Rodrigo Neves (PDT) e Paulo Ganime (Novo), deixou claras as intenções, pelo menos desses quatro candidatos nesse início de campanha, de não "federalizarem" a eleição no Rio.

Em miúdos, o que seria isso? Embora falem de um problema de dimensão mundial, a pandemia, nenhum dos candidatos atacou de forma pesada os principais candidatos à presidência da República, Lula (PT) e Bolsonaro (PL). Isso porque os partidos, se aqui no Rio estão em coligações diferentes, encontram-se em coalizões pra lá de estranhas, em outros Estados da federação. Além disso, o próprio Castro conta com o apoio de um grupo dissidente do PT. Outro que passou praticamente sem receber ataques, foi o prefeito do Rio, Eduardo Paes, que em um eventual segundo turno pode ajudar muito na eleição do próximo governador.

Também conta nessa estratégia, o histórico dos candidatos e dos partidos, que ora apoiam ou apoiaram, tanto Bolsonaro, quanto Lula. Assim sendo, a campanha do Rio tende a ser marcada pelos temas locais e ataques diretos aos opositores: a respeito de Castro, por exemplo, vão lembrar o tempo inteiro que ele foi vice de Wilson Witzel, o governador afastado, acusado de envolvimento com corrupção na saúde, no período da pandemia; sobre Rodrigo Neves, que foi secretário de Sérgio Cabral; com relação a Freixo, acusações de que ele é complacente com a criminalidade; Paulo Ganime vai ter que se defender quanto à inexperiência no Executivo e alguns posicionamentos controversos do seu partido.


Alvos

Por ser o governador em exercício, Cláudio Castro esteve na alça de mira dos três adversários, mas não só ele. Os quatro se espetaram mutuamente, tentando colocar o opositor no corner. Em alguns momentos a estratégia deu certo. O governo do Rio, que tem sido alvo de denúncias sobre possível uso político de uma folha secreta – que veio à tona no final da semana passada, da Fundação Ceperj – órgão estadual voltado à realização de concursos, formação e capacitação dos servidores estaduais, com gastos salariais que superam os R$ 200 milhões e suspeita de "rachadinha", foi o prato preferido da noite. As ações da Fundação estão sendo investigadas pelo Ministério Público do Estado do Rio.

Entretanto, Castro deu o troco. Mirou em Freixo, pela falta de experiência no Executivo e na destinação de recursos das emendas parlamentares, dizendo que como deputado, o candidato do PSB ignorou a Baixada Fluminense, segundo maior colégio eleitoral do Rio. Ao candidato do PDT, Rodrigo Neves, ex-prefeito de Niterói, questionou a forma de condução da política de contenção à Covid-19, criando barreiras para que os moradores de São Gonçalo, cidade vizinha a Niterói, com mais de 1 milhão de habitantes, não buscassem atendimento, enquanto ele era prefeito.

Quanto a Paulo Ganime, deputado federal pelo Novo, também questionou sua experiência e conhecimento a respeito do Estado do Rio. Disse que o Novo não dialoga, impõe suas propostas em vez de discutir com a sociedade e que em nenhum momento, enquanto governador, foi procurado pelo deputado, para tratar sobre os problemas do Rio.

Fala de mim, que eu falo de você

Como era de se esperar, foram apresentadas poucas propostas no debate da Band. Os candidatos se preocuparam muito mais em questionar as ações dos rivais, do que propor soluções efetivas. Enquanto Rodrigo Neves (PDT), parece ser um candidato monotemático, repetindo o tempo inteiro que "o Rio está mergulhado na pior crise de sua história" (o que foi dito pelo menos cinco vezes), discurso reforçado por Ganime e Freixo, Castro se defende apresentando resultados, como o pagamento dos servidores em dia, a realização de concursos públicos, a privatização da Cedae, a recuperação econômica do Estado, que segundo ele, tirou o Rio do segundo pior desempenho no País, para a terceira posição na geração de empregos, de acordo com dados do Caged, do Ministério do Trabalho. Faltou resposta do governador para o número de mortes durante a pandemia, quando o Rio registrou o segundo maior índice, em todo o País. Poderia ter lançado mão dos resultados obtidos após as mudanças promovidas na Saúde, depois que ele assumiu o governo: o Rio foi o primeiro Estado brasileiro a reduzir oficialmente o risco de contágio.

Saindo pela tangente

Não foram poucos os momentos em que os candidatos claramente fugiram das respostas, saindo pela tangente, como aconteceu com Freixo, ao ser questionado por Castro, sobre a destinação de recursos para a Baixada, por meio das emendas parlamentares (cada parlamentar, deputado federal ou senador, tem direito a apresentar anualmente, emendas no valor total de R$ 16 milhões, para investimento em sua base eleitoral).

Se limitou a dizer que destinou recursos para a Universidade Federal Rural, em Seropédica. Castro também não deu explicações sobre o edital de concessão do Maracanã, publicado na semana passada, que obriga o vencedor da licitação a reservar ao governo do Estado, sete camarotes com "buffet completo", 200 ingressos e 20 vagas de estacionamento, por jogo.

Freixo e Rodrigo Neves, que questionaram a "folha secreta" da Fundação Ceperj, ignoraram a acusação de Castro quanto a terem assessores – ou pessoas ligadas a eles, na lista divulgada pelo MP e o que farão a respeito. Paulo Ganime não explicou os motivos pelos quais foi a somente 89 dos 92 municípios do Rio, durante o seu mandato, conforme ele mesmo disse. Não falou mais nada sobre os três que ficaram faltando e por quê não foi a eles.

Propaganda implícita?

Tanto quanto o debate, o intervalo comercial da Band foi bem interessante. Dentre os comerciais, chamou a atenção o da Câmara de Macaé, que está implantando uma usina de energia solar. Mais ainda, os filmes publicitários da Prefeitura de Macaé, onde o Estado está realizando investimentos de mais de R$ 100 milhões e cujo prefeito, Welberth Rezende, é aliado do governador Cláudio Castro, além dos comerciais da Rio + Saneamento, empresa do grupo Águas do Brasil, vencedora de blocos no processo de privatização da Cedae. Interessante!


  • Baía da Guanabara: um dos maiores problemas a ser enfrentado pelo governo do Estado do Rio, a despoluição da Baia da Guanabara, que se arrasta desde 1998 e era pra estar concluída antes das Olimpíadas, mal foi mencionada no debate.

Avaliações

Ao final, os candidatos falaram sobre suas impressões pessoais quanto ao debate: Marcelo Freixo, que foi atacado por sua postura em relação à segurança pública – acusado de defender bandido, e questionado sobre a ação que o PSB entrou no STF, para impedir operações policiais nas comunidades do Rio, durante a pandemia, disse que o partido está há um ano elaborando uma proposta de segurança para o Rio e que ela não se resume ao policiamento ostensivo. Disse ainda que há diversos policiais em seu grupo de estudos e que "os bons policiais" do Rio o apoiam.

Paulo Ganime preferiu falar de si próprio, discorreu rapidamente sobre sua vida no setor privado e reforçou que possui experiência na área de planejamento e execução de projetos. Destacou a importância do debate para que as pessoas o conheçam, mas esqueceu que ele é deputado há quase quatro anos e já deveria ser conhecido pelo eleitor do Rio. Ao ser questionado sobre as críticas feitas ao Novo, principalmente por Freixo, defendeu que isso o favorece: "nós somos um partido com história limpa, não usamos fundo partidário".

Rodrigo Neves, que foi do PT até 2016, e secretário de Estado entre janeiro de 2011 e junho de 2012, quando o governador era Sérgio Cabral Filho, usou pela quinta vez a frase "o Rio está mergulhado na pior crise da sua história". Segundo ele, é importante levar água para a Baixada, criar um programa de transferência de renda no Rio, investir em Educação, reforçando a tradição do PDT e exaltou sua experiência como prefeito de Niterói.

Cláudio Castro, o último dos candidatos a ser entrevistado pela Band, teve oportunidade de responder às acusações, ao falar por último. Segundo ele, a maioria das propostas apresentadas pelos demais candidatos, já está em execução no Rio, como a expansão do abastecimento de água, da rede de esgoto e o projeto de despoluição da Baia da Guanabara, a geração de emprego, o programa de transferência de renda. Castro defendeu que não está há quatro anos no governo, mas há 23 meses. "Quem está na oposição vai dizer que está tudo ruim. Eu não acho que está tudo bem, mas estamos caminhando".

Fonte: Vito Diniz

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