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Observatório

Vito Diniz

Por Da Redação em 26/07/2022 às 16:02:13

Fotos: Divulgação

"Governar sobre muitos é o mesmo que governar sobre poucos. É uma questão de organização"

(Szun Tzu, em A arte da guerra)


O discurso

As redes sociais e os meios de comunicação dispararam críticas ferinas sobre o discurso de Jair Bolsonaro, na convenção que confirmou seu nome como candidato à reeleição. Entretanto, o agora candidato, nada mais fez do que dar sequência à sua forma de se referir a tudo e a todos que estão fora do seu círculo mais próximo, ação intensificada a partir de 2015, quando se colocou como pré-candidato à presidência da República e passou a rodar o País angariando adeptos, com publicidade farta da mesma grande mídia, que hoje o ataca ferozmente.

Quem pegar os discursos de 2015 e mais ainda, quem voltar um pouco no tempo e for buscar os poucos pronunciamentos que ele fez no Congresso Nacional, onde ficou por 28 anos como deputado federal integrante do Baixo Clero, e adequá-los ao contexto de cada momento, perceberá que o tom e o conteúdo são exatamente os mesmos. Interlocutores mais próximos afirmam que Bolsonaro preferiu não usar um discurso escrito por um empresário amigo, por considerar o tom "muito ameno".

Mais do mesmo

Assim como na primeira campanha à presidência, em 2018, Jair Bolsonaro não apresentará propostas. Sua estratégia será bater, bater, bater, tal qual um pugilista que quer a todo momento derrubar o adversário no primeiro round. No máximo, defenderá alguns aspectos de seu governo, que considera relevantes. Se a estratégia deu certo na campanha anterior, catapultando o então deputado à condição de presidente, por quê não repeti-la?

E nesse aspecto, ele segue à risca a estratégia, claramente baseada em alguns conceitos definidos por Nicolau Maquiavel – um defensor do Absolutismo e de ações "duras e austeras" dos governantes, em seu livro "O Príncipe", publicado em 1532. Um desses conceitos diz que para o "príncipe" (encare aqui como governante) "ser amado é bom, mas é preferível ser temido". Segundo o autor, "o temor impede a revolta". E ele vai mais além: "o amor é inconstante, e a confiança no amor permite a revolta. Não é de todo ruim ter algum amor do povo, mas é melhor ser temido, pois o que (quem) teme, não se levanta contra".

Entendendo a estratégia

Quem quiser entender um pouco mais a estratégia de Jair Bolsonaro pode recorrer a duas obras, além de outras, obviamente: o próprio livro de Nicolau Maquiavel ("O Príncipe"), encontrado em PDF na internet, ou comprado por preços módicos, em livrarias ou sebos, e o filme "Coração Valente" (1995), de Mel Gibson, podem ajudar bastante. O livro de Maquiavel é mais literal, enquanto o filme, o espectador precisará observar com uma "ótica reversa", para compreender as razões pelas quais a estratégia do atual presidente são seguidas tão à risca.

Se Maquiavel dá os caminhos, para o que ele entende ser o papel de um governante absolutista, o filme mostra o lado de um guerreiro (Mel Gibson, no papel de William Wallace) movido pelo amor, que é traído por um de seus apoiadores (Robert de Bruce) e no final, sumariamente condenado – e traído, por um rei, a quem ele garantiu governança.

Lula com Chuchu

Esse foi literalmente o mote do primeiro vídeo lançado pela equipe de marketing do ex-presidente Lula, ao ser oficializado candidato à presidência pelo PT, tendo Geraldo Alckmin, do PSB, como vice. Dirigido claramente a um público mais elitizado, ele não deixa de ter na mira o eleitor "mediano" do candidato, que segundo apontam as pesquisas, "viu a comida diminuir na mesa e se preocupa com o desemprego". Lula, por sinal, em viagem a Pernambuco, não compareceu à convenção.

Os 30 segundos do vídeo lançado nas redes sociais, logo após a confirmação da dupla Lula-Alckmin, deixa evidente que a tônica da campanha será defender a aliança entre o ex-presidente e um de seus críticos mais ferrenhos, o ex-governador e ex-candidato à presidência, Geraldo Alckmin, egresso do PSDB. Ao mesmo tempo, o PT modula o discurso, para evitar embates desnecessários nos diversos cenários estaduais, onde alianças, no mínimo controversas, podem colocar partidos adversários no âmbito federal, lado a lado, nas campanhas regionais.

Sabor na campanha

Além de sugerir que haverá mais comida na mesa do brasileiro, caso Lula venha a ser eleito, o vídeo visa trazer "sabor" à campanha, em um tom menos agressivo que o principal adversário. A intenção é literalmente explicitar os dois extremos das candidaturas ao estilo "Lulinha Paz e Amor". Ao passo que Alckmin é chamado no meio político de "picolé de chuchu" (frio e sem gosto, segundo os críticos), o vídeo acrescenta ingredientes na preparação do prato metafórico "lula com chuchu", sugerindo que com "tempero", ou seja, os aliados certos, o chuchu é um ingrediente com qualidades. Nos vídeos seguintes, provavelmente serão elencadas as competências de Alckmin, que embora tenha sido crítico de Lula, é reconhecidamente um bom administrador, assim como as conquistas sociais durante os governos do PT.

Na emoção

O eleitor de Lula não deve ter muitas expectativas com relação a propostas concretas durante a campanha eleitoral. Pelo que tudo indica, a tônica deverá ser mesmo a de comparar os dois governos. O risco é reforçar o discurso de Bolsonaro, ao comparar os quatro anos de sua gestão com os 14 anos do PT no poder. Pode ser bom ou ruim, dependendo do entendimento que o eleitor tiver quanto ao "copo com água pela metade": uns podem considerar que ele está meio cheio, outros podem achar que está meio vazio.

"Amici, ma non troppo"

Se tudo parece bem na aliança nacional entre o PT e o PSB, embora haja cotoveladas, ombradas e caneladas, por mais espaço, não se pode dizer o mesmo no âmbito do Estado do Rio. O PT estadual retirou o apoio à candidatura de Marcelo Freixo (PSB), na corrida pelo governo estadual, até que seja resolvido o imbróglio interno a respeito do lançamento do deputado federal Alessandro Molon (PSB), ao Senado.

O PT, capitaneado dentre outros pelo presidente regional, Washington Quaquá, ex-prefeito de Maricá, além de mais espaço, quer o apoio irrestrito ao candidato ao Senado, André Ceciliano, presidente da Alerj, um dos articuladores da parceria. Existe até o risco de uma ala considerável do partido cambar para o lado do PDT, de Rodrigo Neves, que oficializou o ex-presidente da OAB do Rio, Felipe Santa Cruz (PSD), apoiado pelo prefeito Eduardo Paes, como candidato a vice.

Contrariados

Não é segredo nenhum que o PSB já sofre com algumas baixas no apoio a Marcelo Freixo, por parte de militantes importantes do PT no Rio, o que vem incomodando a cúpula pessebista. Além dos partidários que se aliaram a Rodrigo Neves, e outros que ameaçam embarcar de mala e cuia, existe um grupo que decidiu apoiar nada mais, nada menos, que o governador Cláudio Castro (PL), que dividirá o palanque no Rio com o presidente Jair Bolsonaro. É pau de dar em doido.

Em risco

Apesar de homologada pela convenção do PL, a chapa Cláudio Castro (PL) e Washington Reis (MDB), candidatos a governador (reeleição) e vice, está sob risco de não vingar. Isso porque o ex-prefeito de Caxias (Reis) é réu em duas ações que tramitam nas instâncias superiores do poder Judiciário: em uma, ele é acusado de crime ambiental; na outra, de participar de fraude para obtenção de escrituras de lotes na Baixada Fluminense, quando ainda era deputado federal. Aliados do governador que se colocaram contrários à escolha do ex-prefeito de Caxias, açoitam o ex-prefeito diariamente.

Precavido

O risco que corre Washington Reis e a possível dissolução da chapa foi levada em consideração pela cúpula do PL, na convenção. Como o ex-prefeito foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal, no processo em que é acusado de crime ambiental, os dirigentes do Partido Liberal no Rio, comandados pelo deputado federal Altineu Côrtes, fizeram questão de incluir uma resolução que permite a substituição do candidato a vice, no caso dele continuar inelegível. A Executiva do partido foi autorizada a escolher outros nomes inclusive para a nominata de deputados estaduais e federais. O vice, por sua vez, pode ser substituído até a véspera da eleição.

Por fora

Quem quer correr por fora na disputa pelo Palácio Guanabara é o ex-prefeito do Rio, Marcelo Crivella, que aparece na pesquisa Ipec, divulgada semana passada, com 10% das intenções de voto. A pesquisa, encomendada pela Rio Indústria, entrevistou 1008 eleitores, entre os dias 16 e 19 de julho. De acordo com o levantamento, Cláudio Castro lidera as intenções de voto, com 19%; Marcelo Freixo tem 13% e Crivella, 10%.

O ex-governador Anthony Garotinho, que foi levado a desistir da candidatura por decisão do partido, o União Brasil, aparece com 6% das intenções de voto, enquanto Rodrigo Neves (PDT), tem 5%; Cyro Garcia (PSTU), 4%; Eduardo Serra (PCB), 3%; Coronel Emir Larangeira (PMB), 2%; e Milton Temer (PSOL) e Paulo Ganime (Novo), com 1%. Os eleitores que dizem que votarão em branco ou nulo são 26%; não sabe/não respondeu, 11%. O intervalo de confiança, segundo o instituto, é de 95%. A pesquisa foi registrada na Justiça Eleitoral sob o número RJ-08610/2022.

Cenário 2

O Ipec também simulou um cenário sem a participação de Marcelo Crivella, que poderá ser candidato ao Senado. Nesta sondagem, Cláudio Castro chega a 20%, e Freixo a 14%, o que representa empate técnico no limite da margem de erro.

Briga interna

O maior problema a ser contornado por Marcelo Crivella, entretanto, é uma queda de braço pessoal com dirigentes do seu partido. Até a pesquisa Ipec, a maioria dos cenários apresentados pelos institutos de pesquisa não traziam o seu nome como possível candidato a governador.

Ao mesmo tempo, o presidente nacional do Republicanos, o ex-ministro, deputado federal e bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, Marcos Pereira, que impor ao ex-prefeito uma candidatura ou ao Senado, ou a deputado federal, a fim de puxar legenda. Na disputa para o Senado estão o ex-jogador Romário Farias (PL), que tomou uma sonora vaia dos apoiadores de Bolsonaro, na convenção do PL, realizada no Maracanãzinho, Alessandro Molon (PSB) e André Ceciliano (PT), que andam se digladiando.

Dinheirinho

De acordo com o Google, os gastos com publicidade nos últimos sete dias, totalizando R$ 826 mil, foram os seguintes, segundo dados publicados em sua conta no Twitter, pelo advogado especialista em Direitos Humanos e Direito Internacional, Jeff Nascimento:

1 – Partido Liberal R$ 742 mil

2 – Partido dos Trabalhadores R$ 46 mil

3 – Thiago Costa R$ 5,5 mil

4 – Brasil Paralelo R$ 5 mil

5 – A Voz do Brasil R$ 4 mil

6 – Leonardo Rizzo R$ 3,5 mil

7 – Wilder Moraes R$ 2 mil

8 – Progressistas R$ 1,5 mil

9 – Romero Jucá R$ 1 mil

Vídeos de Bolsonaro

De acordo com o levantamento feito pelo advogado, o gasto do PL foi concentrado na divulgação de vídeos em que o presidente Jair Bolsonaro aparece como "o capitão do povo".

Fonte: Vito Diniz

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